Home|Sobre|Tesouro da Juventude | Índice Geral | Fale Conosco
Tesouro da Juventude
icon
Geografia e Biologia
História
 AEF O Novo Mundo
 AEF O Velho Mundo
 AEF Belas Ações
 AEF Homens e Mulheres Célebres
Literatura
Artes e Trabalhos Manuais
Links Curiosidades
 AEF Fale Conosco

                                    

O LIVRO DAS BELAS ACÕES

A última luta no Coliseu

Irmãs pelo sangue e pelo heroísmo

 O sacrifício do padre Damiao

O nosso padre Bento

O cavaleiro sem medo e sem mácula A fuga de Grócio

Rasgos de heroísmo brasileiro

A mãe dos Gracos

A heroína de Noyon

A dedicação de um romano

Escravo da sua palavra

A donzela que salvou Paris

Um exemplo para os jovens brasileiros  


                 O sacrifício do padre Damiao


Num
mesmo seminário da Bélgica se achavam dois irmãos, prepa­rando-se para o sacerdócio. O mais velho devia ser em breve missionário e, nessa qualidade, ir para as ilhas dos mares do Sul. Brilhavam-lhe os olhos, esfregava as mãos de contente, sem­pre que se referia à obra que o espe­rava além-mar.

Um dia, porém, adoeceu gravemen­te, e teve de recolher-se ao leito. Era presa de uma febre terrível, e ainda mais empalidecia e se definhava ao pensar na inação a que a doença o obrigava. O irmão mais novo, vindo--lhe à cabeceira, disse um dia com ca­rinho: "Sentir-te-ias melhor se eu ocupasse o teu lugar de missionário?" Os olhos do doente brilharam um mo­mento e ele apertou, sorrindo, as mãos do irmão, o qual escreveu se­cretamente às autoridades, pedindo permissão para partir em seu lugar. Um dia, quando estudava, veio ter com ele o diretor do seminário e informou-o de que estava autorizada a sua ida. O rapaz levantou-se, saiu a correr do quarto e percorreu o pátio aos pulos, como um animal selva­gem

— "Enlouqueceu?", perguntavam os colegas.

E por que José Damião mostrava tanta alegria, se afinal ia para umexílio? Por que desejaria abandonar a terra feliz onde se falava a sua língua e cujos costumes lhe eram fa­miliares? Por que razão iria trabalhar entre selvagens, para além de mares longínquos, tornando-se invisível aos amigos e deles esquecido?

É que já abandonara o mundo para ser sacerdote e amava, mais que à pompa do mundo, mais que à paz do lar, mais que ao amor de pai e mãe, o Redentor.

Amá-lo e segui-lo, praticando o bem, tornou-se o seu ideal.

José Damião, com um entusiasmo de moço, partiu para as ilhas dos mares do Sul e ali missionou. Trabalhou com firmeza e nobremente até a idade de trinta e três anos. Então, um dia, em sua missão entre o povo, ouviu dizer o bom bispo que infelizmente não tinha quem mandar aos pobres le­prosos de Molokai, e que esses infe­lizes estavam entregues não só àquele terrível mal como ainda a pecados terríveis.

José Damião, cuja alma muitas ve­zes se tinha condoído ao ouvir falar dos leprosos, pediu ao bispo que o mandasse, e o seu oferecimento foi aceito.

Aqui estava outro sacrifício ainda mais respeitável: ir dos selvagens para os leprosos representava abnegação maior do que ir da Bélgica para os selvagens. Os leprosos vi­viam isolados, longe de toda a gente, evitados por todos. Estavam fora da humanidade. O mal aue lhes roía os corpos tornava-lhes as almas também ruins. Suas cabanas eram verdadei­ras pocilgas; viviam como animais;

eram horríveis ,-. de ver, e mais ainda depois de conhecidos. Não podem vocês imaginar os hor­rores de Molo-kai. Deles só uma pequena parte bastaria para impressio­nar.

Mas o padre Damião levou aos desgraçados a  mensagem simples de que Deus os amava;

e o seu rosto ale­gre, a sua voz terna, o seu olhar acarinha-dor, e, mais que tudo isso, a fé ardente e viva que punha nas suas palavras, converteu-os de animais em ho­mens, e,em bre­ve, de homens em filhos do Senhor. Começaram a arrepender-se dos pe­cados; começaram a sentir que, em verdade, talvez Deus os amasse. Ao menos uma coisa era certa: amava-os o padre Damião.

Dezesseis anos viveu este homem santo e bom entre os leprosos. Er­gueu uma igreja, a que se afeiçoaram muito, construiu-lhes casas mais con­fortáveis, deu-lhes um melhor fornecimento de água, foi seu enfermeiro. tratando das suas chagas horrendas;confortava-os à hora da morte e ca­vava as suas sepulturas. Ouviu-se, então, falar deste padre que traba­lhava sozinho entre os leprosos. Es­creveram-lhe, mandaram-lhe caixotes de coisas úteis para a sua gente, e ,      , houve mesmo quem lá fosse visitá-lo e aju­dá-lo. Durante muitos anos tra­balhou entre os infelizes, mas por fim foi ele próprio vítima do horrível mal. Um dia entor­nou água a fer­ver, e ela lhe caiu num pé. Es­tranhou não sen­tir dor nenhu­ma. Procurou um médico. "Te­nho a lepra?". perguntou. "Sin­to informá-lo", respondeu o mé­dico, "mas está, com efeito, is-proso". Daí em diante o padre Damião,   nos seus sermões, já não dizia "meu irmãos , mas "nós os leprosos". Sentia-se perfeita­mente feliz. Dizia que, se fosse possí­vel curar-se abandonando a ilha, ain­da assim não deixaria os leprosos. Continuou trabalhando, com a morte a roer-lhe feroz e vorazmente o corpo.Quando o levaram para o leito, agradeceu a Deus todos os benefícios e confortos recebidos. Dois padres e irmãs de caridade ajoelhavam-se-lhe ao pé do leito.
— "Quando estiver no céu, padre Damião", perguntou um deles, "não esquecerá estes órfãos que aqui dei­xa'?"

— "Não, não!", disse, sorrindo, o bom padre. "Se algum valimento ti­ver ante Deus, rezarei por todos que esíão no Leprosário."

— "E", tornou o padre ajoelhado.

"não me deixará, como Elias, o seu manto?"

— "Para quê?", replicou o padre Damião. E depois acrescentou lenta­mente: "Está cheio de lepra".

Nenhum rei teve, porém, manto mais belo!

É que toda a sua vida tinha sido um longo ato de heroísmo.


Visite nossos patrocinadores