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O LIVRO DAS BELAS ACÕES

A última luta no Coliseu

Irmãs pelo sangue e pelo heroísmo

 O sacrifício do padre Damiao

O nosso padre Bento

O cavaleiro sem medo e sem mácula A fuga de Grócio

Rasgos de heroísmo brasileiro

A mãe dos Gracos

A heroína de Noyon

A dedicação de um romano

Escravo da sua palavra

A donzela que salvou Paris

Um exemplo para os jovens brasileiros

           A última luta no Coliseu

NOS grandes dias em que Roma dominava o mundo, e o imperador vivia em um pa­lácio de mármore branco, o Coliseu era o maior teatro até então erguido na terra.

Lá continua de pé, arruinado e partido, mas, ainda assim, impressio­nante. Nos dias terríveis em que Ro­ma decaía do grande lugar que já ocupara na história, quando Pedro e Paulo sofriam o martírio fora das suas portas, o pequeno grupo de cristãos escondia-se em grandes buracos sub­terrâneos para que pudessem escapar à tortura e à morte. Ainda hoje podemos percorrer essas catacumbas dos primeiros fiéis de Jesus.

Nesses dias negros e vergonhosos. o grande Coliseu branco, elevando-se imponente sobre a terra, com as suas grandes galerias que comportavam quarenta mil pessoas, era um espe-táculo grandioso. Aí vinha Roma toda ver as grandes feras soltas dilacera­rem-se umas às outras. Aí se mos­travam os gladiadores, homens fortes .treinados para lutar dois a dois, até que um caísse morto. Ai se lança­vam aos leões os cristãos vivos, em dias de festa romana. No mundo ne­nhum lugar terá visto cenas mais cruéis.Pouco a pouco o cristianismo abriu caminho, até que o próprio impera­dor se tornou cristão. Então acaba­ram esses espetàculos vergonhosos e o Coliseu tornou-se apenas um circo. O povo, porém, ainda os recordava e de vez em quando a fúria antiga reaparecia. Havia quatrocentos anos que os cristãos se vinham tornando cada vez mais numerosos e fortes, quando chegou um dia de terror para Roma. Alarico, chefe dos godos, caiu como um cataclismo sobre Roma, cujo imperador era apenas um pobre man­cebo louco; teria ela fatalmente su­cumbido se não fosse um bravo gene­ral e os seus homens, que derrotaram os invasores.

Tão grande foi a alegria do povo que ele, nesse dia, afluiu ao Coliseu, aplaudindo o bravo general. Houve ali uma caçada às feras e um grande espetáculo como nos tempos antigos, quando, de repente, de um dos corre­dores estreitos que conduzem à arena, surgiu um gladiador com espadas e lanças. O entusiasmo do povo não tinha limites.

Aconteceu então uma coisa estra­nha. Para o meio da arena avançava um velho, descalço e de cabeça des­coberta, pedindo que evitassem der­ramamento de sangue. Gritou-lhe o povo que deixasse o sermão e se fosse embora. Os gladiadores avançaram e empurraram-no para o lado, mas o velho tornou a meter-se entre eles.

Uma saraivada de pedras caiu-lhe ml:namespace prefix = st1 ns = "urn:schemas-microsoft-com:office:smarttags" />em cima. Os gladiadores abateram-no e o velho morreu ali, ante os olhos de Roma.

Era um eremita, chamado Telêma-co, um desses santos homens que, cansado das maldades, tinha ido viver na solidão dos montes. Vindo a Roma para visitar os altares sagrados, vira o povo afluindo ao Coliseu e, compa­


decendo-se da sua crueldade, segui­ra-o para evitar a ressurreição dos espetáculos deprimentes, ou morrer.

Morreu, mas conseguiu o seu obje-tivo. As vozes mais dignas de Roma se ergueram contra o covarde sacri­fício do pobre eremita; e não se tor­nou a derramar sangue no grande teatro. Foi essa, felizmente, a última luta no Coliseu.


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