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    AS "MEMÓRIAS" DE HUMBERTO DE CAMPOS
 PARTE de Memórias publi-2-J cada ainda em vida do autor ^ *- abrange somente os quator­ze primeiros anos de sua existência e corresponde ao período de 1886 a 1900.

No prefácio desse volume Hum­berto de Campos escreve as seguin­tes palavras, ao apresentar o livro:

"Os objetivos da obra iniciada com este volume, e principalmente os dele, são a confissão pública de faltas par­ticulares, numa penitência de possí­veis pecados de egoísmo e de orgulho, e a demonstração de como pode um homem, pela simples força de sua vontade, desajudado de todos os atri­butos físicos e morais para a vitória, libertar-se da ignorância absoluta e de defeitos aparentemente incorrigí­veis, desviando-se dos caminhos que o levariam ao crime e à prisão para outros que o poderão conduzir a uma poltrona de Academia e a uma ca­deira de Parlamento".

Em cp.pítulos independentes são apresentados, ou melhor, fotografa­dos, alguns dos parentes mais próxi­mos do autor e as figuras de tipos

que mais lhe impressionaram o espí­rito, criando imagens que não se apa­garam de sua memória.

IHumberto de Campos perdeu o pai quando contava somente seis anos de idade, e dele pouco fixou em sua lem­brança. Entretanto em mais de um capítulo nos aparece o tipo alegre e jovial do pai de Humberto de Cam­pos, particularmente indelével no epi­sódio dramático em que, ao chegar à porta de sua casa montado em um cavalo, a filha de apenas dois anos de idade cai sob as patas do animal, que resfolega impaciente. O menor movimento poderia causar a morte da criança. E ele, então, cravou com vio­lência as esporas nos flancos do ani­mal, que, de um arranco, saltou por cima do corpo da menina . Ao apear--se, estava pálido e ofegante, e pouco tempo depois faleceu de uma doença do coração,possivelmente causada

por aquela emoção intensa.Humberto de Campos nasceu em Miritiba, no Estado do Maranhão, e dedica um capítulo à descrição de sua terra natal. Miritiba fora antiga­mente uma aldeia de índios, e nos últimos anos do século XIX ainda não dispunha de muitos recursos. 

Por essa época possuía aproximadamente duzentas casas, das quais somente trinta ou quarenta de telha.
O autor, fazendo um estudo de sua pessoa, diz: "tenho a impressão de que não fui, jamais, um menino ale­gre e querido. Por mais que recue no tempo em busca de mim mesmo só me encontro impulsivo e rebelde, mas dominado, intimamente, por uma profunda tristeza, com imprevistas explosões de uma esquisita sensibi­lidade. Eu era afetivo, desconfiado e feio".

Depois da morte do pai, Humberto de Campos, com o seu génio descon­fiado, foi relegado ao abandono, sem outros carinhos além dos maternos. Dotado de um espírito forte, não se queixava; suportou com resignação as consequências da pobreza e formou um caráter independente e inque­brantável, que lhe proporcionaria mais tarde vencer todos os obstáculos que se opusessem ao seu ideal.

Correspondendo aos primeiros anos de sua infância o autor narra alguns acontecimentos interessantes, como, por exemplo, a chegada da primeira lancha a vapor ml:namespace prefix = st1 ns = "urn:schemas-microsoft-com:office:smarttags" />

Por essa época possuía aproximadamente duzentas casas, das quais somente trinta ou quarenta de telha.
O autor, fazendo um estudo de sua pessoa, diz: "tenho a impressão de que não fui, jamais, um menino ale­gre e querido. Por mais que recue no tempo em busca de mim mesmo só me encontro impulsivo e rebelde, mas dominado, intimamente, por uma profunda tristeza, com imprevistas explosões de uma esquisita sensibi­lidade. Eu era afetivo, desconfiado e feio".

Depois da morte do pai, Humberto de Campos, com o seu génio descon­fiado, foi relegado ao abandono, sem outros carinhos além dos maternos. Dotado de um espírito forte, não se queixava; suportou com resignação as consequências da pobreza e formou um caráter independente e inque­brantável, que lhe proporcionaria mais tarde vencer todos os obstáculos que se opusessem ao seu ideal.

Correspondendo aos primeiros anos de sua infância o autor narra alguns acontecimentos interessantes, como, por exemplo, a chegada da primeira lancha a vapor ml:namespace prefix = st1 ns = "urn:schemas-microsoft-com:office:smarttags" />em Miritiba. O me­nino havia sido levado para assistir a uma festa de São João, em uma aldeia mais para o interior. "Houve danças no terreiro, mas eu dormi logo. Alta madrugada, porém, senti que me arrebatavam da rede, e que subiam comigo, numa grande aflição, para o girau. A noite não tinha lua, mas estava toda polvilhada de estre­las, deixando ver nessa claridade dú­bia o suave contorno das coisas. Des­pertando de repente, e vendo o casal e os dois filhos agoniados, ouvi por minha vez um grande grito apavo­rante, que devia partir da garganta de um monstro. Perguntei, baixinho, o que era.— "É o Anti-Cristo, o amaldiçoai — respondeu-me a cabocla, em c^ colo eu me havia abrigado.     ,

"E com voz medrosa:

— "Dorme, dorme...

"Adormeci outra vez, debaixo ( gritaria do monstro, e, quando aço dei, estávamos descendo do gira Tinha amanhecido, e havia, em tora outros roceiros das proximidades qi comentavam o acontecimento. I confabulação ficou resolvido que l guns deles iriam à vila verificar o qi ocorrera durante a noite. Eu fui ta bem, carregado, para ser entregue minha família, caso ainda existiss E encontramos Miritiba em alvorôç Chegara inesperadamente ao seu pó to, naquela noite, alarmando-a co;

uma série de apitos, a primeira Ia chá a vapor procedente da capital.'

Aos seis anos e meio Humberto ( Campos foi conduzido à escola. lo| no primeiro dia de aula, intimidai com a aparência severa do professe fugiu da sala e correu para casa pi ferindo apanhar a voltar à presem do mestre. Entretanto tornou à esco no dia imediato, e começou a "beli car a alpiste graúda do alfabeto conforme suas próprias palavras.

Pouco tempo depois Humberto i Campos, acompanhando as duas i mas e a mãe, deixava a vila nati rumando para São Luís, capital i Estado. Este é um dos capítulos i maior sensibilidade em todo o livi e tem o título " A caminho do exílio

De São Luís a família seguiu pá Parnaíba, no vizinho Estado do Pia Logo após a chegada hospedaram-na casa do tio paterno, Emídio Veri comerciante de alguns recursos, e qi seria o primeiro patrão de Humber de Campos.

Em 1894, na cidade de Parnaíba, futuro escritor recomeça os estud primários, abandonados poucos mês depois de iniciados. Uma verdadei sede de conhecimentos fazia com que estudasse até tarde da noite, confor­me nos relata no seguinte trecho: "A ânsia de reconquistar o tempo perdi­do, aprendendo a ler e a escrever, irrompeu, em verdade, em mim, co­mo uma febre ou como um incêndio. A noite, enquanto meus tios e tias se achavam na novena, ficava eu, com a minha mãe, na sala de jantar, à clari­dade do lampião de querosene, cur­vado sobre o abecedário encardido, ou a cobrir com tinta os riscos, ou as letras, que ela fazia a lápis. E quando nos recolhíamos, e ela, fatigada dos afazeres diurnos, se deitava na sua rede, ficava eu ainda acordado, esti­rado no chão, sobre a esteira que lhe ficava ao lado, juntando as letras, formando as sílabas, com a assistên­cia única da lamparina fumegante."

em Miritiba. O me­nino havia sido levado para assistir a uma festa de São João, em uma aldeia mais para o interior. "Houve danças no terreiro, mas eu dormi logo. Alta madrugada, porém, senti que me arrebatavam da rede, e que subiam comigo, numa grande aflição, para o girau. A noite não tinha lua, mas estava toda polvilhada de estre­las, deixando ver nessa claridade dú­bia o suave contorno das coisas. Des­pertando de repente, e vendo o casal e os dois filhos agoniados, ouvi por minha vez um grande grito apavo­rante, que devia partir da garganta de um monstro. Perguntei, baixinho, o que era.— "É o Anti-Cristo, o amaldiçoai — respondeu-me a cabocla, em c^ colo eu me havia abrigado.     ,

"E com voz medrosa:

— "Dorme, dorme...

"Adormeci outra vez, debaixo ( gritaria do monstro, e, quando aço dei, estávamos descendo do gira Tinha amanhecido, e havia, em tora outros roceiros das proximidades qi comentavam o acontecimento. I confabulação ficou resolvido que l guns deles iriam à vila verificar o qi ocorrera durante a noite. Eu fui ta bem, carregado, para ser entregue minha família, caso ainda existiss E encontramos Miritiba em alvorôç Chegara inesperadamente ao seu pó to, naquela noite, alarmando-a co;

uma série de apitos, a primeira Ia chá a vapor procedente da capital.'

Aos seis anos e meio Humberto ( Campos foi conduzido à escola. lo| no primeiro dia de aula, intimidai com a aparência severa do professe fugiu da sala e correu para casa pi ferindo apanhar a voltar à presem do mestre. Entretanto tornou à esco no dia imediato, e começou a "beli car a alpiste graúda do alfabeto conforme suas próprias palavras.

Pouco tempo depois Humberto i Campos, acompanhando as duas i mas e a mãe, deixava a vila nati rumando para São Luís, capital i Estado. Este é um dos capítulos i maior sensibilidade em todo o livi e tem o título " A caminho do exílio

De São Luís a família seguiu pá Parnaíba, no vizinho Estado do Pia Logo após a chegada hospedaram-na casa do tio paterno, Emídio Veri comerciante de alguns recursos, e qi seria o primeiro patrão de Humber de Campos.

Em 1894, na cidade de Parnaíba, futuro escritor recomeça os estud primários, abandonados poucos mês depois de iniciados. Uma verdadei sede de conhecimentos fazia com que estudasse até tarde da noite, confor­me nos relata no seguinte trecho: "A ânsia de reconquistar o tempo perdi­do, aprendendo a ler e a escrever, irrompeu, em verdade, em mim, co­mo uma febre ou como um incêndio. A noite, enquanto meus tios e tias se achavam na novena, ficava eu, com a minha mãe, na sala de jantar, à clari­dade do lampião de querosene, cur­vado sobre o abecedário encardido, ou a cobrir com tinta os riscos, ou as letras, que ela fazia a lápis. E quando nos recolhíamos, e ela, fatigada dos afazeres diurnos, se deitava na sua rede, ficava eu ainda acordado, esti­rado no chão, sobre a esteira que lhe ficava ao lado, juntando as letras, formando as sílabas, com a assistên­cia única da lamparina fumegante."

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