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LIVRO DOS CONTOS



Simbá, o marinheiro
A rosa do mar
A dança das doze princesas  
História do salgueiro das louças 
Os três porquinhos  
História dos sapalinlios vermelhos
A criança fine a França esqueceu
A lenda do judeu errante     
A mãe Shipton
Os quatro ministros sábios
Como Napolcão voltou da ilha de Elba            
Napolcão depois de Waterloo 
               



 

A ROSA DO MAR

     ERA uma vez um rei da Pérsia, muito infeliz. Era um grande sol­dado, muito rico e poderoso; mas não tinha filhos, e isto o entristecia. Cons­truiu um grande palácio em uma ilha solitária e ali vivia junto do mar.Um dia, porém, um mercador veio ao palácio e trouxe ao rei uma lindaescrava. Logo que o rei a viu, apai­xonou-se e com ela casou-se com grande alegria. Deu-lhe os mais ricos vestidos e os melhores aposentos, com todas as janelas voltadas para o mar, e encarregou cem criadas de a servi­rem. Mas estranha coisa! a es­crava nunca lhe falava. Nunca falava a ninguém. Dia após dia ficava sen­tada a uma janela, olhando o mar.Assim passou um ano, e então nas­ceu um filhinho. O rei ficou louco de alegria quando soube que tinha um filho e herdeiro, e, lançando-se aos pés da antiga escrava, disse-lhe:"Minha rainha bem-amada, por que é que nunca me falas? Nada falta para a minha felicidade ser completa senão uma palavra tua."Ela sorriu, e, por fim, falou"Ah, meu senhor", disse, "com que carinho e ternura me tens tra­tado desde que me trouxeram como escrava ao teu palácio! Pensa, po­rém, o que uma princesa real deve sentir quando foi vendida como es­crava!"

"Quê? Tu és uma princesa?", exclamou o rei.

— "Sou a Rosa do Mar", disse a rainha, com orgulho, "e meu irmão, o rei Sela, é rei do mais rico país que há no fundo do oceano. Infelizmente brigamos. O ano passado nosso país foi invadido e nosso palácio destruí­do; receando que eu caísse nas mãos do inimigo, Sela queria que eu casas­se com um príncipe da terra.

"Isto fez-me zangar e eu saltei do mar e caí na costa da tua ilha. Fui ali encontrada por um mercador, que logo me trouxe aqui e me vendeu a ti como escrava."

— "Mas não te tenho tratado como escrava, querida", disse o rei.

— "Não", disse a Rosa do Mar, com voz muito suave; "e porque me fi­zeste a tua rainha e me tens amado . tanto, não me tenho lançado ao mar

para voltar ao meu irmão, como pen­sava fazer. Agora que tenho um fi­lho, cumpre chamar Sela, para que ele o veja."

Rosa do Mar mandou um criado trazer um braseiro cheio de brasas;

depois tirou de uma caixinha um pe­daço de aloés, que pôs no fogo. Quan­do a fumaça se levantou e saiu pela janela, ela disse algumas palavras em língua estranha.

O mar começou a agitar-se, as ondas apartaram-se e delas saiu um homem alto, novo e belo, ricamente vestido e com uma coroa na cabeça. Cercava-o uma corte luzida de damas e de guerreiros. O rei do mar e a sua gente vieram até a ilha e entra­ram no palácio.

— "Ah, minha querida Rosa do Mar", disse ele ao ver a irmã, "venci todos os nossos inimigos e podes já voltar para casar com qualquer prín­cipe do mar!"

— "Já estou casada, querido Sela", disse a rainha. "Este é o meu ma­rido, o rei da Pérsia, e este o nosso filho."

Sela pegou na criancinha e sumiu--se pelo mar a dentro com ela.

— "Não tenhas medo", disse Rosa do Mar. "Sela está apenas fazendo o que eu tencionava fazer. Quer ape­nas ver se nosso filho é capaz de vi­ver debaixo da água, como toda a gente do mar."

E assim foi. Em poucos minutos Sela voltou, trazendo nos braços o principezinho, que estava sorrindo de alegria. Tinha respirado a água sal­gada como se fosse ar, e nem um fio da sua roupa estava molhado.

A princípio o rei teve muita pena de não poder ir também ao fundo do mar visitar os reinos maravilhosos;

mas o filho e a mulher contavam-lhe histórias interessantíssimas das coisas estranhas que lá se passam e ele sen­tiu-se feliz com tais narrativas.
 

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